CLÉU ARAÚJO
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MMXIV

por: Cléo Araújo

29 DEZ

2014

Eu não vou morrer amanhã.

Mas hoje, por precaução, fiz uma retrospectiva desse ano sem noção.

Para mim, pelo menos.

Em 2014, eu escrevi a letra de uma música sertaneja para alguém melodiar.

Eu quase morri, algumas vezes, mas renasci tantas, tantas outras.

Eu me arrisquei. Tomei na cabeça. Tomei de novo. E, não contente, tomei uma terceira vez. Fui feliz mesmo quando estava no fundo do poço. Fui feliz até no 7 a 1 de Brasil x Alemanha. Fui feliz em abril, debaixo de 2 graus. Fui feliz em setembro, descobrindo que sou sim feita para gostar de alguém, e mais ainda para ser gostada.

Em 2014, executei passos de ballet pegando coisas na geladeira. Dei beijos na tela do iPhone e carimbei de rímel a fronha do meu travesseiro. Às vezes, por preguiça de tirar a maquiagem. Outras, por chorar feito um filhote de poodle na primeira noite longe da mãe e dos irmãos.

Eu não vou morrer amanhã.

Mas em 2014, por garantia, dei uma volta de bike e soltei as mãos na descida, só pro vento bagunçar meu cabelo e arejar minha mente. Fazia anos que não andava de bike e não havia momento melhor para voltar a fazer isso do que nos últimos dias de 2014.

Tomei penicilina. Vi o sol nascer tantas vezes que até perdeu a graça.

Ganhei outra sobrinha, o nenê com as coxas mais incríveis que qualquer nenê já teve, tem ou terá. Ouvi a sobrinha mais velha me dizer que me ama. Com todas as letras. E quis gravar esse dia desse ano na minha mente para sempre.

Comi coisas que nunca tinha comido. Fiz amigos novos, fiz uma melhor amiga.

Eu não vou morrer amanhã mas, em 2014, eu quase morri. Na estrada. Voltando da praia, engolida pelas luzes dos túneis da Imigrantes. De cansaço. De tristeza. De alegria imensa.

Eu dormi no ombro de alguém que eu queria ao meu lado dentro de um avião. Eu joguei roleta, bati o carro, tirei um diploma de Ballet Clássico e trabalhei. Sim. Sobrou tempo para isso, também.

Eu chorei sentada na privada do Alameda Quality Center numa viagem para São Paulo. Eu trafiquei sementes de milho. Cozinhei. Fui cozinhada. Joguei comida fora. Me apaixonei por pelinhos de um sovaco. Preparei banhos de espuma. Quase nem vi o tempo passar.

Em 2014, eu quase não dormi. Esse ano foi feito de dias para se estar acordada.

Eu não vou morrer amanhã, mas se eu fosse, queria me lembrar desse ano que fez cócegas na minha vida.

Se eu morresse amanhã, pediria apenas que alguém, por favor, tatuasse “MMXIV” ao lado do meu seio esquerdo.

Que tocassem Muse no meu funeral.

E que rissem, acendessem um Marlboro Light e tomassem uma taça de Merlot no dia 31, ao pôr do sol.

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