Como estou dirigindo?
por: Cléo Araújo
14 MAI
2009
A gente deve saber que a coisa não vai bem quando um playboy numa Mercedez Kompressor gruda na bunda da gente dentro do túnel da avenida Nove de Julho. Na bunda do carro, claro, porque senão, até que a coisa não estaria indo tão mal assim. Ali, diante da Mercedez Kompressor e de seu motorista playboy e apressado, e mesmo sabendo se tratar aquele de um típico e clássico caso de pênis diminuto, a gente percebe que a coisa não vai bem, não. E que, além disso, a gente está a quase
Mas poderia ser pior.
Como quando um carro de firma – desses com dois caras dentro e uma escada de eletricista de poste no bagageiro – fecha a gente numa avenida de grande movimento, a despeito do adesivo gigantesco que jaz no seu vidro traseiro “Como estou dirigindo?”. Pergunta retórica. A gente deve saber que a coisa não vai bem quando resolve ligar para uma central de “Como estou dirigindo?” a fim de delatar um piloto descuidado. Mas, como a coisa não vai bem, a gente resolve que é melhor não se identificar, para não correr o risco de sofrer represálias. Mas aí, sem a identificação do reclamante, a gente sente que a denúncia vai sendo calma e lentamente deletada, letrinha por letrinha, pelo “Esc” do teclado da atendente. Sinal de que a coisa não vai bem, não. Mas… Poderia ser pior…
Como quando uma Kombi velha, cheia de alface e sem vidro traseiro, encosta no seu carro. Mas, diferentemente da Mercedez Kompressor, ela não dá um totó atrás. Dá um totó na frente. Vai descendo, descendo, e mesmo com toda buzina que você aciona, ela escorrega até se escorar no seu carro, que estava imóvel. A gente deve saber que a coisa não vai bem quando começa a pensar que circulam por aí Kombis sem freio de mão
Como quando, no meio do congestionamento do retorno do feriado, um caminhão tanque resolve cortar todo mundo pelo acostamento em uma rodovia de duas pistas. E
A gente deve saber que a coisa não vai bem quando um boliviano de cabelo meio loiro, meio preto, do outro lado da avenida, derruba seus malabares em cima do capô do nosso carro, que aguardava pela abertura do semáforo a cerca de
Bom, a coisa está estranha mesmo, mas dos males, o menor.
Porque quando a coisa não vai bem, meu amigo, a chance daquele ser um malabares com labaredas fumegantes era grande.
E aí, a gente quase agradece.
Que a coisa não vai bem, não vai…
Mas que poderia ser pior… Ah, poderia…