CLÉU ARAÚJO
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O horizonte e eu

por: Cléo Araújo

12 DEZ

2004

Toda vez que eu me pego com uma vontade louca de viajar – para Tailândia, para Moscou, para Bali, para Singapura, para o deserto do Atacama, para a ilha sul da Nova Zelândia, para o Congo – eu começo a me questionar “mas que raios estão acontecendo na minha vida?” São momentos em que uma luz de emergência acende à minha frente dizendo: você está com saudade de você.

Alguns lugares já me receberam nesses momentos. Momentos áureos e raros de eu comigo. Para alguns, eu fui. Para outros, eu sigo planejando. É que de tempos em tempos eu tenho esses surtos. Que alguns chamariam de fuga, mas que eu chamo simplesmente de vontade de ir. E de muita pouca vontade de ficar.

Sabe, quando você olha o horizonte, e tudo lá se encontra? Essa é a sensação. A de ir, porque você não está. A de sair longe, de sair num um vôo longo, porque perto não serviria para o seu objetivo, que é ir além do horizonte? Essa!

Aí, eu paro. Estou aqui, afinal. Paradinha.

E começa uma busca frenética por sites na Internet que tragam exatamente o que se procura. O tal lugar, que você não sabe onde é. O primeiro foi a Disney, mas isso já faz 14 anos e não, não serve um catálogo da CVC. Você tem que ir mais longe. O horizonte você não compra num pacote da CVC. Você descobre que sua alma pede por mais do que o supermercado do qual você conhece a posição das gôndolas. Você quer se perder em gôndolas, em idiomas, em falsos cognatos. Tem hora que não adianta procurar perto.

Mil sites depois, algumas buscas mais tarde e você descobre que, de repente, a sua casa é uma delícia absoluta, porque começou a chover forte e você teve que descer correndo para fechar as janelas. E nessa oportunidade, você percebeu que o mundo, aquele que é perto, é lindo. Mas, não! Não serve. Não agora

Você pensa nas roupas que você poderia levar, pensa na sua mala, que teria que ser micro. Ninguém enfrenta o horizonte com uma mega Samsonite no lombo. Você conseguiria fazer uma mala pequena? Se fosse pra chegar no horizonte, você tem certeza que sim.

A mala está pronta, na sua cabeça, e você começa a pesquisar os vôos, que são longos, tipo infinitos, e você fica pensando em você mesma 18 horas num avião, sozinha, com um estranho que dorme e lê ao seu lado. Não conversa (não que você queira, mas enfim). Ele come, ouve MP3 (você tem medo que o avião caia por causa disso, mas se controla – seu destino É o horizonte). Ele lê muito. De repente pode ser interessante, dicas ultra legais sobre os points do horizonte. Afinal, ele está no mesmo vôo, indo pra lá também. Mas, no geral… Que solidão!

Mas, oras bolas, quem vai pro horizonte quer companhia? Amir Klink pediu isso? Claro que não. Aventureiros são seres solitários, ermitões da modernidade. Eles seguem, sem destino, pro lugar onde a alma deles pediu para que se seguisse.

Lá pode chover, pode fazer sol, você simplesmente não se importa. Porque a sua presença, com você mesma, é que faz toda diferença nesse momento. Você quer estar consigo, e no mundo todo, não parece haver companhia melhor.

E eu vou. Vou nessa. E só conto quando voltar. Com um presságio: o horizonte é um lugar legal pra caramba. Trust me!

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