CLÉU ARAÚJO
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Obrigada, cebola

por: Cléo Araújo

21 AGO

2014

Alô, alô. Som, teste, som.

Ham ham, ok.

Bom, primeiramente, boa noite.

Obrigada a todos pela presença aqui, nessa agradável reunião. Vejo amigos, vejo gente querida. Ali atrás, “oi, tudo bem”? Obrigada, gente,  obrigada mesmo.

É com profunda emoção, alegria e, por que não dizer, certa vaidade, que agradeço o convite para vir até aqui agradecer.

Faço pouco, menos do que deveria.

Começo, então, pedindo permissão para quebrar os protocolos. Não mencionarei as autoridades aqui presentes. Vocês sabem quem são e, honestamente, não perderei meu precioso e curto tempo agradecendo a cada um nominalmente. Valeu, galera.

Daí, meu segundo pedido, que será de desculpas. Farei uso, daqui em diante, depois do “galera” há pouco aplicado, de gírias e linguagem chula para expressar tudo aquilo que preciso dizer de mim.

Gostaria de começar agradecendo a cada fio de cabelo branco que pipocou na minha cabeça desde os 21 anos de idade. Obrigada, cabelos. Beijo em cada fio. Voltem sempre.

Agradeço, também, e não em menor carinho, ao meu senso de humor. Agradeço por sua capacidade de fazer piadas sobre minhas dores. Não fosse você, meu caro, travesseiros teriam sido perdidos em lágrimas e sudorese noturna. Obrigada, de coração, por rir de nós. Você foi fundamental em 2004, em 2009 e ontem. Valeu, bicho. Valeu mesmo.

Preciso agradecer, também, ao meu ouvido musical. Cara, você é a razão da minha vida. Agradeço por ser democrático, eclético e não ter preconceitos. Você faz toda diferença na minha vida, saiba disso. Você ouve enquanto eu te escuto. A gente se entende e faz histórias na madrugada, enquanto nosso brother, o senso de humor, faz as piadas. Vivemos todos nessa harmonia cômico-dramática, entre choros e risos, nessa bipolaridade eterna que é a nossa vida.

Um obrigada especial se faz necessário a todo mundo que me entende, mesmo eu falando em 78 rotações. Obrigada por prestarem atenção, terem foco, pegarem as sílabas perdidas do meu discurso eterno. Não fosse você, audiência amada, estaria deitada num gramado, recitando Silvia Plath para abelhas surdas. Obrigada, aliás, abelhas surdas, por nunca terem me dado atenção. Sua ignorância e questionamento velado sobre meus lamentos valeram mais que uma sessão com Freud.

Um momento de reflexão, agora, para tudo que é líquido. Tudo que molha a garganta, da água ao vinho, da saliva à cerveja no dia quente. Líquido, obrigada por me deixar te engolir, por me hidratar, por fazer sua parte junto ao meu senso de humor e à minha memória musical. Vocês, líquidos, são parte importante por diluírem meus sólidos, por essa mistura homogênea que em mim habita e por essa façanha habilidosa de prenderem e libertarem os radicais que um dia enrugarão ainda mais a minha pele, naquele dia em que, talvez, eu também venha aqui, publicamente, agradecer a vocês, rugas, por deixarem sua história sob meus olhos. Hoje, não. Por enquanto, rugas, quero que vocês queimem no mármore do inferno. Sorry, girls, ainda não são bem vindas. Segurem-se. Vosso tempo virá.

Finalmente, quero deixar um agradecimento especial para a cebola, esse ser composto por cerca de – seriam 12? – camadas finas e transparentes.

Obrigada, cebola, por seus flavonóides.

Cebola… Sem você para picar, como explicar a vida, o choro na cozinha, a graça do guacamole, a impertinência de um Quarteirão com Queijo?

Você, cebola, é metáfora de mim.

Só faz sentido em pedacinhos, tem a casaca fina, e, como eu, é expert em me fazer chorar.

Uma boa noite a todos.

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