CLÉU ARAÚJO
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Qual a minha penitência?

por: Cléo Araújo

12 JAN

2007

Hoje é um bom dia para confessar maldades. Por isso, eu confesso. Confesso que já beijei quem não queria. Ou por não encontrar outra saída ou, simplesmente, para encerrar uma noite horrorosa de forma categórica e definitiva.

Já menti deslavadamente para poder fazer outra coisa que não sair com um grude que encarnou em mim feito espírito obsessivo.

Já atendi telefone falando baixinho, fazendo de conta que estava dentro de um cinema e assim poder me ver livre de conversar com um xavecador que não me apetecia. O cara, aliás, nunca mais me viu nessa vida. Sim, eu sumi sem deixar vestígios. E não me senti nada culpada por isso.

Confesso que já chorei de raiva e desejei o mal a uma pessoa. É que do namoro com ele ficou apenas uma salafrária de uma multa de velocidade, castigo de quem se mete a dirigir em áreas que não fazem parte do seu itinerário. E ainda aceleram, tamanha a pressa de se chegar ao que seria, depois, lugar nenhum, e ainda com um rombo de mais trezentos reais no orçamento.

Confesso que já chorei ao receber trinta rosas vermelhas embrulhadas em um imenso buquê. Não de alegria, mas de angústia. Não queria ter que agradecer ao galanteador, de quem vinha fugindo feito uma bandoleira condenada e quem eu já havia bloqueado há semanas no MSN.

Confesso que nessa época amava outro, que nunca me deu flor nenhuma, é claro, nem de plástico.

Confesso que sempre, SEMPRE, acredito que a vida me reserva uma surpresa, uma coisa melhor, porque apesar de todas essas maldades, eu confesso que acredito que mereço ser feliz. Mas isso é porque, confesso, sou egoísta pra caralho.

Confesso que já fiz coisas lamentáveis: me revelei apaixonada, me derramei, me humilhei, me descabelei, chorei, me angustiei, vomitei… Mas confesso que amei pouco, embora tenha encafifado várias vezes.

Confesso uma dor calada, que eu estou assassinando aos poucos, por inanição.

Deveria ficar agora esperando para ouvir minha penitência.

Fosse qual fosse, cumpriria o castigo, juro.

Depois, seria devolvida ao mundo, de alma leve e pura.

E ficaria esperando a redenção dos céus.

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