A cegueira do tipo não gostar de ver vira tudo do avesso. Talvez porque falte atenção para os fatos que transformam e as transformações que viram fatos. O que vai indo mal? A sua vida? O que, é tão difícil? A economia, é difícil? O dólar, faz tempo que não vou para Miami? O preço do filé mignon, deixei de comer? Gripe suína, peguei? Dengue, peguei? Você? Certeza? Senão, o quê, afinal? O mano, me incomoda? A moto do mano, me corta no trânsito, e eu odeio? A moto e o mano? O mano e a moto? O Piauí, é o fim? Paris, o ó? As casas populares? O Galliano? A cesta básica, a Marabraz, o crediário a juros, fim do mundo? O iate, o rolex e o jaguar? Por quê? Por quê? Ignoro a completude do outro para expressar minha opinião? Preconceito? Quando? Feito vômito, cuspe, coisa que se põe para fora e caia onde cair, dane-se? Século XXI, certo, coroné? A queda do cabresto, o ventre livre, alguém lembra? Princesa Isabel? Diretas já? Mulher pobre negra homem rico branco? Diferente? Desprezo, ironia? Moda? Perdi…? Ninguém se escuta? Ninguém olha em volta? Nossas casas, camarões, serviçais, quintais, SUVs, agendas, LVs, passagens, garagens, adegas? Vazios? Rotos? O que perderam? O que fizeram? Manobristas ou CeOs, manicures ou neurocirurgiões, professoras ou socialites, pedreiros ou bibliotecários, porteiros ou promotores. Não pode querer? Não pode pensar? Por quê? Só porque não sabe, não pode? Eu não amo nada nada disso. Consciente incoletivo. Abdução das faculdades. Humanidade em extinção? A morte da língua, a língua da morte. Insuportável alienação de tudo, de todo, um coro ao estúpido. Enxergo quase antes de não querer ver. Sou parte quando não estou. Sozinha, perdida, espaço e tempo sem explicação. Ímpar, aqui, ímpar onde quer que esteja. Finjo que não escuto, apesar de saber ler. Lá vou eu, me rodear de tudo isso, quase nada. Lá vou eu, ouvidos moucos e vista grossa, vou viver sobre, vou sobreviver.