CLÉU ARAÚJO
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Investimento de risco

por: Cléo Araújo

15 FEV

2005

É tudo tão lindo. Alguém a conquista com um arranjo de flores e você se sente o último docinho de leite Avaré do pacote. Guarda até uma petalazinha seca de recordação. Quase chora quando olha para ele.

Ficar apaixonado é sinônimo de ficar um tanto estúpido. Faz parte do jogo. Tem que fazer. Ninguém fica apaixonado pensando nos prós e contras ou elaborando um gráfico sobre chances do negócio emplacar ou ser um total fiasco. Não fazemos análise de situação quando estamos apaixonados. Investimos todas as nossas ações no mercado de risco, esperando uma alta.

E você fica lá, acompanhando o pregão. Ora suas ações sobem, ora elas descem. Quando elas descem você descarrega sua raiva – e medo de perder todos os seus investimentos – na pétala seca de flor. Ameaça jogá-la no lixo, junto com todas aquelas rolhas de vinho que você guarda para um dia dar de presente para ele, como se ele soubesse que você guarda esse tipo de ‘lixo’ no seu quarto. Mas, pelo menos, você fica com a sensação de que um dia as suas ações podem subir.

Será que é a queda das nossas ações na bolsa dos bobos apaixonados que faz com que uma paixão não passe disso? E o que é passar disso, afinal? Será que toda paixão tem mesmo que virar amor? Penso assim: quem investe no mercado de risco tem chance de ganhar uma bolada de uma hora para outra. Já aqueles que ficam depositando na poupança, ou na previdência privada, têm, no máximo, a garantia de uma vida tranqüila mais tarde.

Vai um pouco do perfil do apostador. Eu não tenho uma opinião final formada a respeito. Nunca soube aplicar meu dinheiro. Ele vem e eu gasto. Com paixão é quase a mesma coisa. Ela bate e eu pulo. Torço, torço muito, mas ultimamente minha torcida tem sido deveras inútil. Não leio os sinais, não acompanho os comentários dos analistas econômicos. Definitivamente, a economia não é o meu forte. Fico um tempão tentando entender como é que foi que eu perdi o meu dinheiro. Geralmente, sempre depois que ele já se foi.

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