Um dia bom tem forno aceso e cozinha quente.
Tem fim de tarde de potes de cereja em calda abertos sobre a mesa da copa, rodelas de abacaxi e um assado no forno, dourando devagar.
Um dia bom é ótimo para vasculhar antigos discos de vinil, para ficar surpreso com uma chuva inesperada que cai lá por volta das dez da noite (afinal, “fez tanto sol o dia inteiro”), para ganhar um presente surpresa, para jogar ping-pong depois da meia-noite e tomar sorvete de flocos com calda de caramelo pouco antes de ir dormir.
Um dia bom é um dia de casa cheia. Mas também é um dia sensacional de casa vazia, todinha só para você.
É tempo de dar uma passada na casa dos amigos, de tomar Coca Cola com gelo, de encher a sala de colchões e dormir lá com todos os primos que existem no mundo. 
Um dia bom, se fosse um único dia, teria que ser um dia de pelo menos umas 720 horas, que só deveria terminar quando voltassem as aulas. O que significa que ele seria um dia perfeito para pensar em que classe você vai cair, com que amigas você vai estudar, que mochila você vai usar e qual vai ser a cara da sua nova professora.
O bom é que nesse dia tão longo que é um dia bom dá tempo de quase tudo.
De ir dormir na casa da amiga, mas só fechar os olhos quando o sol já vai nascendo lá fora, de dar voltas de mobilete pela cidade, de conhecer aquele menino lindo, de dar banho no cachorro com a mangueira, de ficar com o rosto corado de sol e de passar esmalte com gliter.
Durante um dia bom, todo mundo deveria experimentar fugir pelo menos de um louva deus ou de qualquer outro tipo de inseto de verão. Durante um dia bom, todo mundo deveria ler pelo menos um capítulo de “Tia Júlia”. Mas vale a pena também aproveitar para fazer uma baliza olímpica e comer pastel de carne com ovo.
Num dia bom, você pode descongelar o Han Solo, cantar Sinatra no karaokê e decorar a coreografia de Thriller. Mas por favor, não se esqueça de esperar pelo menos duas horas depois do almoço para entrar na piscina para não ter congestão. Porque eu tenho certeza que você não vai resistir à piscina num dia bom como esse.
Coma bolacha recheada de morango, lave o carro na garagem, encha os pneus da bicicleta e pule elástico. Vá a uma sorveteria a la carte e peça um sundae de creme com farofa e calda de chocolate.
Pegue uma luneta e vá para um terreno escuro para olhar a Lua.
Bata banana, maçã e mamão com leite no liquidificador. Jogue vídeo-game, chupe manga e faça um banho de creme no cabelo. Assista “Monty Python”, “A Gata e o Rato”, “A lagoa azul” e “Curtindo a vida adoidado”.
Compre tinta, telas em branco, pincéis e pinte um quadro bem colorido e sem noção.
Chame os amigos em casa, e não se esqueça de convidar aquele, que toca violão, para vocês passarem a noite cantando e tomando uma cervejinha gelada.
Jogue “Stop”, acampe no jardim e solte uma pipa.
Almoce na casa de uma avó, que nem precisa ser a sua.
Jogue queimada na rua, buraco e truco. Coma pizza de catupiry com peito de peru.
Abençoe cada picada de pernilongo que você encontrar em sua pele no final do dia. Agradeça a dor nos ombros de tanto jogar biribol e a dor na bunda de tanto jogar frescobol.
Dê boa noite e pense em todo mundo que você ama um pouco antes de fechar os olhos e pegar no sono.
Amém.