CLÉU ARAÚJO
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Amo

por: Cléo Araújo

14 JUL

2011

Ando amando tudo o que há. A ave que solta um grunhido agudo e rouco na palmeira. Acolhe. Dá cara na casa. A taça que seca, feliz, gotas que escorrem. Amo gotas que escorrem, especialmente em vidros, no copo, no box, na janela do carro. Amo essa massa meio assim, boa, com o que tinha.

Amenina Branca de Neve, a cadela vestida de plush, os olhos cinzas da pequena, linda, linda. A vida que foi, a que vai ser, a que quase acontece, todos os dias. Amei, amei todas, amarei. A amiga dos cabelos longos. O amigo, que tá tão feliz. Amo a felicidade dele, é minha. A lealdade do queijo derretido, tostado.

O que é para sempre, o que vem de longe, o pensamento que quase foge, indo, indo. A torta de chocolate com creme. A risada banguela, Bach… Toca o mantra, amo o que se repete, conforto, música que toca dentro, que toca fora, que toca.

Amo o som da tecla que vibra a nota que não existe. Amo porque de amor a alma enche a mente, esquenta, pinica. Duas palavras, ditas. Duas palavras, pensadas.

Amo o som quieto, o carro que passa longe. O voo seguro, que leva, mais ainda o que traz. Uma azeitona, o mundo, o leão, o pinguim e o camelo, lindo, desértico, todo pleno de tanto si. Um bongô. Amo o bongô. A lindeza do feio e a feiúra do lindo. Amo porque existe. Amo o sonho e o pesadelo, porque acorda. Amo abrir os olhos, amo os perfumes e os odores mil, ah, tanta coisa há para amar que nem sei. A sálvia, a cidreira, o gengibre. O bigode do gato, do homem ou do cão. O olho mágico, grego ou castanho. Des odeurs de lessive, o possível, o certo, o cheio e o  vazio. Amo o que acontece, amo o que nem sucedeu.

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